sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De Notícia para Valor-Notícia


Existe aquele ditado que toda fofoca é notícia! Bem não é bem assim. Notícia é a expressão de um fato novo, que desperta o interesse do público a que o jornal se destina. Caracteriza-se por uma linguagem clara, impessoal, concisa e adequada ao veículo que a transmite. Deve ter o predomínio da função referencial da linguagem. Há predominância da narração. Por ser impessoal, o discurso é de terceira pessoa. Em sua estrutura padrão, possui duas características fundamentais: “ Lead” e corpo. Como já mencionei em textos anteriores, o Lead é, no mais popular, o primeiro parágrafo onde fica as informações principais de um texto dando assim a famosa introdução do texto. Já o corpo representa todo o desenvolvimento do texto dando assim uma confirmação com mais detalhes do lead. As junções desses elementos formam a notícia.
Notícia, conforme os dicionários, é definida como 1.Informação; conhecimento. 2. Resumo informativo de um fato ou assunto, em jornal. 3. Nova; novidade; boato. Mas para nós, imprensa e mercado, o que realmente é notícia? Na faculdade de jornalismo aprendemos que tudo aquilo que possa interessar a alguém, é a informação transformada em mercadoria, dando-se o nome de valor notícia. Esta ação é também designada de critério de notíciabilidade. Na prática a decisão acerca do que é ou não notícia é tomada de forma informal por editores que se baseiam na sua experiência profissional e intuição. Os fatores ou critérios que dão um fato valor-notícia coincidem na maior parte das redações dos meios de comunicação social. Em 1965, Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge enumeraram esses fatores. A sua análise mantém-se atual embora existam outras tipologias.

O jornalismo é uma seleção da realidade. Logo, os jornalistas adquirem, como uma parte do seu profissionalismo, em grande parte adquirida através do treino, da pressão exercida pelos seus pares e na sala de redação, um saber instintivo que lhes permite identificar e hierarquizar a multiplicidade de acontecimentos que acontecem no mundo real.Segundo Galtung e Ruge (in Traquina, 1993: 63), “o mundo pode ser comparado a um enorme conjunto de estações radio difusoras, cada uma a emitir o seu sinal ou o seu programa no seu próprio comprimento de onda. A emissora é contínua, correspondendo ao axioma que está sempre a acontecer algo a qualquer pessoa no mundo. O conjunto de acontecimentos mundiais, então, é como a cacofonia que se obtém quando se procura obter um posto num receptor de rádio e, sobretudo, se isso for rapidamente em onda média ou onda curta. É óbvio que esta cacofonia não faz sentido, e só pode ser inteligível se um posto for sintonizado e escutado durante algum tempo antes de passar para o seguinte.” Tal conceito de noticiabilidade implica a existência de critérios pelos quais essa qualidade – a noticiabilidade – é reconhecida: os valores – notícia”. Galtung e Ruge enumeraram doze valores-notícia:

A) A frequência respeita à existência de uma espécie de sintonia entre a frequência do acontecimento e a periodicidade jornalística. É possível publicar um assassinato que se dá entre duas edições de um jornal, mas não é possível dar conta de uma morte específica que se desenvolve durante uma batalha em que há, pelo menos, um morto em cada minuto, tal como não é possível descrever minuciosamente a construção de uma barragem.

B) Um segundo valor-notícia é a amplitude. Quanto mais forte e maior a sua amplitude, mais provável a audição da frequência. Quanto maior for a barragem inaugurada ou o assassínio cometido mais probabilidades tem de ser publicado.

C) Quanto mais claro e inequívoco for o sinal, mais provável a audição dessa frequência. Para usar o termo associado à rádio, quanto menor o ruído mas audível se tornará o sinal. É preferível um acontecimento claro e livre de ambiguidades a outro que é muito ambíguo e do qual muitas e inconsistentes implicações poderão ser feitas.

D) Quanto mais significativo for o sinal, mais provável será a audição dessa frequência. O termo «significativo» associa-se à ideia de ser interpretável dentro da estrutura cultural do ouvinte, remetendo para uma certa proximidade cultural.

E) Quanto mais consonante for o sinal com a imagem mental do que se espera encontrar, mais provável será a audição dessas frequências. O valor notícia da consonância está ligado com uma pré-imagem mental. A expectativa da ocorrência pode ser interpretada cognitivamente como uma predição e normativamente como um desejo. Os acontecimentos que se desviarem muito das expectativas existentes não serão registrados.

F) O carácter inesperado do acontecimento é um critério que parece corrigir os restantes. Postula-se que, quanto mais inesperado for um sinal, mais provável será a audição da frequência. É o inesperado dentro dos limites do significativo e do consonante.

G) Outro critério indicado enuncia que se um sinal for sintonizado, é provável que mereça a pena ser escutado. É provável que qualquer coisa que atinja os cabeçalhos dos jornais, continuará a ser notícia durante algum tempo.

H) Quanto mais um sinal for sintonizado, mais valerá a pena sintonizar um sinal de tipo diferente da próxima vez. No fundo, se houver um número muito elevado de notícias do estrangeiro, o valor de noticiabilidade de notícias domésticas será mais elevado. Enquanto estes oito primeiros valores parecem variáveis independentes da cultura em que se verificam, há factores que influenciam a transição dos acontecimentos para as notícias e que são culturalmente determinados.

I)Quanto mais um acontecimento diga respeito às nações de elite mais existe a possibilidade de ser representado.

J)Quanto mais um acontecimento diga respeito a pessoas de elite mais possibilidades têm de ser representado.

L)Quanto mais um acontecimento puder ser visto em termos pessoais mais provável será a sua transformação em notícia;M)Quanto mais negativo for o acontecimento, mais provável a sua transformação em notícia.(Cfr. Galtung e Ruge, 1993: 63-69).

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